terça-feira, 13 de abril de 2010

Querido Diário,
Já faz três meses. Eu não escrevi mais depois de ter te contado. Não tive coragem. Parece que tudo nunca vai acabar. Nem a dor, nem a saudade.
Ontem eu voltei a escola, o clima era de luto e eu não consegui conter as lágrimas. Quando eu olhei a classe, faltava alguma coisa, faltava algumas pessoas. Ninguém sentou no lugar onde nós nos sentavamos. Nem mesmo eu. Preferi sentar no fundo para poder enxugar minhas lágrimas discretamente.
Eu senti tanta falta delas. Esses três meses trouxe o peso de uma vida inteira. O pior é saber que não importa quanto tempo passe, elas não vão voltar. Eu nunca mais vou ver a Flávia, ou abraçar a Lú. Nunca mais vou poder ouvir a risada da Natália. Nunca mais.
Desde a viagem não encontro mais meu lugar. Nem mesmo a minha casa parece me acolher do mesmo jeito. Desde que cheguei e desde que tudo aconteceu recebi algumas ligações, algumas visitas, ombros para chorar, pessoas tentando me animar, mas isso foi só no primeiro mês, depois de um tempo, ninguém passou a ligar mais, todo mundo seguiu sua vida. Menos eu.
Há uns quinze dias, eu fui com minha mãe no supermecado e vi uma barra de Laka, o chocolate preferido da Lú. Ela era viciada nesse chocolate e eu sempre comprava uma barrinha pra ela. Por que as lembranças doem tanto? Antes eu saía para todos os lugares e achava graça quando lembrava delas, mas agora só sinto dor e saudade.
Será que um dia vou reecontrar o meu lugar? Eu era tão segura das coisas quando elas estavam comigo, e hoje, pareço uma personagem patética de um filme ruim. A Lú com certeza saberia o que dizer. Ela sempre sabia. Ela sempre cuidava de mim. Ela conseguiria me acalmar e eu acreditaria que tudo ia ficar bem se ela disesse. Mas ela nunca mais vai dizer isso. E eu nunca mais vou ouvir ela me dizer que tudo ficará bem.
Por que o furacão aconteceu? O que nós fizemos para merecer isso? Não gosto de imaginar como elas devem ter ficado assustadas. Será que na hora se lembraram do que eu havia dito? Será que ficaram com raiva de mim? Afinal, a culpa é minha.
Minha vida parecia um conto de fadas e agora é como um pesadelo do qual eu não consigo sair. Eu escapei da morte, mas na maior parte, preferia ter morrido. Nunca fui boa em despedidas, mas não ter tido nem a chance de me despedir foi uma grande crueldade do destino. Por que será que isso aconteceu? Será que vai trazer alguma coisa boa para a minha vida? Porque se for, eu não quero nada. Só as minhas melhores amigas de volta.

Um comentário: